22 julho 2006


Da Respiração

Respiração[1]
“Aquilo que chamamos 'eu' não é mais do que uma porta de vaivém que se move quando inalamos e quando exalamos”.


Quando praticamos zazen, nossa mente sempre segue a respiração Quando inalamos, o ar entra em nosso mundo interior. Quando exalamos, o ar sai para o mundo exterior. O mundo interior não tem limites e o mundo exterior também é ilimitado. Nós dizemos “mundo interior” e “mundo exterior”, mas, na verdade só há um único mundo. Nesse mundo sem limites, a garganta é uma espécie de porta de vaivém. O ar entra e sai como alguém passando por uma porta de vaivém. Se você pensa “eu respiro”, o “eu” está a mais. Não há um você para dizer “eu”. O que chamamos “eu” é apenas uma porta de vaivém que se e move quando inalamos e exalamos. Ela simplesmente se move, eis tudo. Quando sua mente está pura e calma o suficiente para seguir esse movimento, não há nada: nem “eu”, nem mundo, nem mente, nem corpo. Só uma porta que vai e vem.
Assim, quando praticamos zazen, tudo o que existe é o movimento da respiração e, no entanto, estamos cônscios desse movimento. Não devemos nunca nos distrair. Mas estar consciente do movimento não significa estar consciente do eu pequeno, e sim da nossa natureza universal, ou natureza de Buda. Esta consciência é muito importante porque em geral somos unilaterais. Nossa compreensão habitual da vida é dualista: você e eu, isto e aquilo, bom e mau. Na realidade, tais discriminações são, elas próprias, a consciência da existência universal. “Você” significa estar consciente do universo na forma de você, e “eu” significa estar consciente do universo na forma de eu. Você e eu somos portas de vaivém. É necessário este tipo de compreensão; porém, nem sequer deveria chamar-se compreensão já que é, isto sim, a verdadeira experiência da vida través da prática do Zen.
Assim, quando você pratica zazen, não há idéia de tempo e espaço. Você pode dizer: “Começamos o zazen neste recinto às quinze para as seis”. Portanto, você tem alguma idéia de tempo (quinze para as seis) e alguma idéia de espaço (neste recinto). Na verdade, o que você está fazendo é apenas sentar-se cônscio da atividade do universo. É tudo. Neste momento, a porta de vaivém se abre numa direção, e no momento seguinte ela se abrirá na direção oposta. Momento a momento. cada um de nós repete essa atividade. Aí não há idéia nem de tempo nem de espaço. Tempo e espaço são um. Você pode dizer: “Preciso fazer algo hoje à tarde”. Mas, na realidade, não há “hoje à tarde”. Fazemos uma coisa depois da outra. Eis tudo. Não existe um tempo como “hoje à tarde” ou “uma hora” ou “duas horas”. À uma hora você vai almoçar. O próprio ato de almoçar é à uma hora. Você estará em algum lugar, mas esse lugar não pode ser separado de “à uma hora”. Para quem realmente aprecia sua vida, eles são a mesma coisa. Mas quando ficamos aborrecidos com a vida, podemos dizer: “Eu não devia ter vindo a este lugar. Teria sido melhor ir a outra parte para almoçar. Este lugar não é muito bom”. Na sua mente, você criou uma idéia de lugar desvinculada do seu tempo presente.
Ou você pode dizer: “Isto é mau, eu não devo fazer isto”. Na verdade, quando diz “eu não devo fazer isto”, você está fazendo um não-fazer nesse preciso momento. Portanto, não há escolha para você. Quando você separa a idéia de tempo e de espaço, parece que há alguma escolha; mas, na realidade você tem de fazer algo ou tem de fazer um não-fazer Não fazer algo é também fazer alguma coisa. Bom e mau existem só na sua mente. Por isso você não deve dizer: “Isto é bom”, ou “isto é mau”. Em vez de “mau”, você deve dizer “não-fazer”. Se você pensa “isto é mau”, estará criando confusão para si mesmo. Assim, pois, na esfera da religião pura não há confusão de tempo e espaço, de bom ou mau. Tudo o que se tem a fazer é simplesmente executar as coisas tal como se apresentam. Faça alguma coisa! Seja o que for, devemos fazê-lo, mesmo que se trate de um não-fazer. Devemos viver neste momento. Assim; quando nos sentamos, concentramo-nos em nossa respiração, nos tornamos uma porta de vaivém e fazemos o que deve ser feito, algo que temos de fazer. Isto é prática do Zen. Nesta prática não há confusão. Se você estabelecer este modo de vida, não haverá confusão de nenhuma espécie.
Tozan, um famoso mestre Zen, disse: “A montanha azul é o pai da nuvem branca. A nuvem branca é o filho da montanha azul. O dia todo eles dependem um do outro, sem que um seja dependente do outro. A nuvem branca é sempre a nuvem branca. A montanha azul é sempre a montanha azul”. Eis uma pura e clara interpretação da vida. Pode haver muitas coisas como a nuvem branca e a montanha azul: homem e mulher, mestre e discípulo. Dependem um do outro. Mas a nuvem branca não deve ser importunada pela montanha azul. A montanha azul não deve ser importunada pela nuvem branca. Elas são totalmente independentes e, não obstante, dependentes. É assim que vivemos e é assim que praticamos zazen. Quando nos tornamos verdadeiramente nós mesmos, nos tornamos somente uma porta de vaivém: somos inteiramente independentes e, ao mesmo tempo, dependentes de todas as coisas. Sem ar não podemos respirar. Cada um de nós está no centro de miríades de mundos. Estamos no centro do mundo, sempre, momento a momento. Assim, somos completamente dependentes e independentes. Se você tem este tipo de experiência, este modo de existência, você tem absoluta independência; não será importunado por coisa alguma. Portanto, quando você pratica zazen sua mente deve estar concentrada na respiração. Este tipo de atividade é a atividade básica do ser universal.
Sem esta experiência, sem esta prática, é impossível atingir a plena liberdade.


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Respirando em Zazen[2]
Respirar no zazen é natural e baseia-se em seu próprio ciclo respiratório. De uma maneira geral, a freqüência normal de nossa respiração é de dezesseis por minuto. Para aqueles mais experientes em sentar, a freqüência diminui para, talvez, cinco ou seis por minuto, ou, para aqueles que vêm se sentando há muitos anos, pode chegar a duas ou três por minuto, às vezes até menos. Contudo, se você tentar forçar sua respiração a tornar-se mais lenta, sua respiração fica esquisita e seu sentar torna-se muito desconfortável. Assim, para melhorar sua respiração, tente “estreitá-la”. Quando digo “estreitar sua respiração”, quero dizer que quando você expirar, expire menos do que você habitualmente expira. Não tente aumentar o tempo de sua expiração imediatamente, apenas tente expirar uma quantidade levemente menor. Estreite a corrente de ar e respire com sua freqüência natural. Quando você inspirar, não inspire muito ar de uma só vez e tente inspirar uma quantidade levemente menor. De novo, não tente aumentar a duração de sua respiração rapidamente. Ao respirar desta maneira, mais ar é retido em seus pulmões, ficando mais fácil respirar. Em conseqüência , sua respiração tornar-se-á mais lenta naturalmente.
Respirando dessa maneira, você ficará mais confortável; ficando mais confortável, você se sentará melhor; sentando-se melhor, sua respiração torna-se mais lenta. Quando sua respiração torna-se mais lenta, ela também fica mais profunda. Ao respirar desta maneira, eventualmente você começará a experimentar o gosto muito sutil da respiração.
Ao respirar mais longa e profundamente, a transição da inspiração para a expiração tornar-se-á mais suave. O trajeto do ar circulando para dentro e para fora será algo com a forma de um ovo. Seu respirar circulará suavemente ao longo de um circuito oval, para dentro e para fora. Quando você praticar este tipo de respiração, você encontrará um prazer incomensurável simplesmente respirando em zazen.
A respiração deve vir da parte inferior do abdômen, o hara. Mas não force a respiração para baixo; este é o modo errado. Em vez de forçar a respiração para baixo, force levemente a parte inferior de seu abdômen para a frente enquanto você inspira e, então, enquanto você expira, deixe a parte inferior de seu abdômen afundar para dentro. Quando você inspira, ela vai para fora; quando você expira ela vai para dentro. Se você tentar forçar o ar para baixo, você comprime o diafragma e os músculos abdominais, o que pode provocar dor ou uma tensão ou esforço desagradável naquela área. Não deve haver nem tensão nem esforço no seu estômago enquanto você respira. Ao praticar desta maneira, eventualmente você experimentará uma respiração profunda, tranqüila e natural em seu abdômen inferior.
Quando você senta, seu corpo, respiração e mente harmonizam-se e quando sua respiração torna-se mais lenta, a mente também se acalma. Quando isto acontece, um sentimento unificado, confortável, é bastante natural. Por favor, não seja apressado. Leve o tempo que precisar e diligentemente pratique esta respiração. Você deve adquirir esta experiência de você mesmo, praticando esta respiração.
O processo de unificação do corpo, respiração e mente não ocorrerá da mesma maneira em cada pessoa. Ao inspirar, seja um com a sua respiração. Ao expirar, seja um com a sua respiração. Cada um de vocês tem que encontrar seu próprio caminho para conseguir esta integração. Esta é a condição fundamental do zazen.

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Mondo 1[3]

– Você pode falar-nos sobre a respiração durante o zazen?
– Vou tentar, mas é difícil. Na tradição, os mestres nunca a ensinaram. Na ioga, é a primeira coisa que se aprende. No zen, não se ensina. Quando a sua postura é correta, você encontra automaticamente a respiração correta. Para lhe mostrar seria preciso que eu ficasse nu. Você deve compreender com seu próprio corpo. Uma pequena inspiração a partir do plexo. Depois, expiração empurrando os intestinos sob o umbigo.
Anapanashati: expiração, respiração do Buda. Foi através do anapanashati que ele encontrou o satori sob a árvore de Bodhi.
Não há necessidade de inspirar, apenas expirar. Pois, quando se expirou completamente, pode-se ainda respirar um pouquinho, um pouquinho, um pouquinho.
Quando leio os sutras, meu sopro é muito longo porque eu tenho o hábito da expiração. Quando se expira, há um pequeno vai-e-vem de ar nas narinas e pode-se continuar durante um bom tempo. Faz quarenta anos que eu me treino.
Vocês devem, primeiro, compreender com o cérebro e depois treinarem. É um método para viver muito. A maior parte das pessoas que vivem muito no Oriente praticam esse tipo de respiração. Eu também lhes digo que vocês devem concentrar-se na expiração.
Durante o kinhin, se eu expirasse no meu ritmo, ninguém mais se moveria. Então, eu me harmonizo.
Apertar o solo com o grande artelho, o polegar no punho esquerdo. Isto tem uma relação com as artes marciais. As artes marciais são diferentes dos esportes. O hara deve ser forte. Para compreender esta respiração, o canto dos sutras é suficiente. As cerimônias e os cantos dos sutras são feitos para treinar a sua respiração. Quando se canta, você deve ir até o fim do sopro. É um bom treino.
O professor Herrigel falou disso em seu livro sobre o arco e flecha. Ele estudou durante seis anos esta disciplina. Ele pensava, no começo, que o mestre era doido mas, no final, ele abandonou todos seus conhecimentos e sua filosofia e teve êxito. Ele foi ao Japão estudar o verdadeiro zen. Disseram-lhe: “É muito difícil. Se você quer estudar o zen, é preciso primeiro praticar uma arte marcial”. Herrigel era muito bom no tiro ao alvo e então começou a treinar o arco e flecha. Mas ele só conseguiu entender a respiração ao cabo de seis anos. Meu mestre dizia: “Se ele tivesse vindo me ver antes, aquilo lhe teria tomado muito menos tempo”. Ele conseguiu quando entendeu a pressão sobre os intestinos, não antes. O judô também é um treinamento da respiração, mas a maior parte das pessoas ignora isto. É a partir do segundo ou terceiro dan que essa respiração se instala.
Herrigel compreendeu inconscientemente: a flecha parte ao final da expiração. Da mesma forma no judô: ao expirar, se é forte, ao inspirar, fraco. Deve-se vencer o adversário quando ele está na inspiração. Eu sou capaz de matar um homem com um dedo quando ele está inspirando.Não há necessidade de uma faca. Eu tentei quando era jovem. Não o matei, apenas o joguei por terra. Ao fim da inspiração há um ponto fraco. Na expiração, pode-se receber um golpe que não acontecerá nada. Nem se nos movemos.
É por isso que a respiração da ioga não é eficaz para as artes marciais. Os japoneses não gostam da ioga. Ninguém a pratica no Japão porque as pessoas conhecem bem a respiração zen. Para as massagens é também muito importante, bem como para o esgrima. E se vocês compreenderem isto bem, isto poderá servir-lhes na vida quotidiana.
Numa discussão, quando você se apaixonar, se você respirar como expliquei, você se acalmará. O coração é massageado, os pulmões se enchem de ar. Quando se pratica o zazen, tornamo-nos corajosos porque existe sempre uma ação do diafragma para baixo. Recebemos bem as pequenas coisas, não se tem medo de nada.
......................
Pelo corpo, pela respiração, inconscientemente, tornamo-nos calmos, sábios. As idéias partem do corpo. Se você fizer zazen, isto lhe tornará familiar.
Você pensa: “Talvez o sensei pratica essa respiração do começo ao fim do zazen”. Não, às vezes eu esqueço, mas na vida do dia-a-dia, eu tenho esse costume. Encontre você sua maneira. Concentre-se na expiração como uma vaca que expira ao mugir.
Se você se concentrar na inspiração, você ficará fraco. Você pega um resfriado inspirando. Também é assim que você chora. Quando se está feliz, quando se ri, a gente se concentra na expiração. Com esse método, você pode controlar seu espírito. Isto é muito importante e não é difícil. Mas as pessoas se esquecem disso. Quando você está fraco, triste, concentre-se na expiração e isto mudará seu estado de espírito.
Pode-se controlar sua vida seus sentimentos, pela respiração.
* * *
Mondo 2[4]

Pergunta – Porque devemos nos concentrar tanto na expiração?
Resposta
– A absorção e a eliminação estão sempre em equilíbrio. Mas as condições da civilização moderna destroem os componentes deste equilíbrio: deseja-se sempre ter objetos, ter poder, ter o outro..., nunca se pensa em termos de ser. Até mesmo quando se está doente, fraco, triste ou concentrado sobre seu pequeno eu, presta-se atenção na inspiração e isto enfraquece ainda mais o organismo. É quando praticamos o oposto que podemos receber a verdadeira energia. Se a expiração for correta, a inspiração se faz automaticamente, inconscientemente. Este método de respiração é a chave da saúde e o segredo da longevidade.

Pergunta – E o que dizer da inspiração?
Resposta – Ela deve vir automaticamente ao fim da expiração. Com um pouco de hábito, isto fica fácil de explicar. Observe a vaca ao mugir, ela muge quando expira, para dissipar sua fadiga, ela concentra toda a sua forma na expiração. A respiração Zen é chamada de “prática do mu”. Habitualmente insistimos apenas na inspiração, apesar disto enfraquecer o corpo. Quando observamos um moribundo, uma pessoa triste ou até mesmo resfriada, constata-se que sua inspiração é muito longa. Se, ao contrário, a pessoa é ativa, feliz, a expiração domina. Este método é ensinado nas artes marciais tradicionais.


* * *

Mondo 3[5]

É preciso que os iniciantes controlem a respiração?

Tokuda sensei: Sim. A chave é kanki issoku (a respiração a boca entreaberta, uma das preliminares do zazen).
Issoku significa “uma respiração”, mas este método não está limitado a uma respiração. Podem ser duas ou três. Não é teoria, é uma prática do corpo. Com ela, a respiração investe o corpo. É uma maneira de entrar no zazen. Kanki issoku é uma das chaves essenciais para entrar em shishin, o controle da mente. É dito também no Fukanzazengi para que se abandonem os pensamentos e considerações. É também um aspecto do choshin, o controle da mente. Lá não se trata de controlar, mas de abandonar. Abandonar o desejo de se tornar Buda. Se buscamos tornar-nos Buda ou realizar a iluminação, isto se torna um obstáculo. Basta harmonizar tudo isto e o zammai aparece.
Zammai significa esquecer o controle do corpo, esquecer o controle da respiração, esquecer o controle da mente e tornar-se vacuidade. Neste momento, é shinjin datsuraku (perder o corpo e a mente). Sem nada esperar, entra-se em jijuyu zammai, ressente-se a respiração e ressente-se a mente. Esta mente é hishiryo. Tanto pensar como não pensar são ambos hishiryo.

Nishijima sensei: No caso em que uma respiração controlada pode ajudar o praticante a se sentir um pouco mais à vontade, pode-se utilizar esta respiração. Pode ocorrer ainda que durante o zazen, sintamos vontade de fazer uma ou duas respirações profundas. Isto pode ser feito de tempos em tempos, mas não tem nada a ver com um controle continuado da respiração. Quando é possível, é preferível praticar logo de vez shikantaza, sem empregar outras técnicas, como o controle da respiração, para aí chegar. O ponto mais importante no zazen consiste em manter sua coluna vertebral reta. É por isso que não devemos nos concentrar senão na ação de manter a coluna vertebral reta. É verdade que a respiração é importante, mas ela tem uma importância secundária. Apenas sentar-se é aqui a ação fundamental, a mais simples possível. Então, porque acrescentar o controle da respiração? Isto só faz complicar as coisas: uma hora eu controlo a respiração, outra hora eu endireito a coluna vertebral, depois eu volto à respiração....É bem mais fácil nos esforçarmos em apenas uma direção do que em várias; é bem mais fácil nos esquecermos de uma só ação do que de várias.

Na escola Soto, alguns dizem que deve haver uma expansão do ventre durante a expiração, outros dizem que a expansão se faz no momento da inspiração. Outros, enfim, dizem que não se deve procurar criar um tal movimento durante o zazen.

Tokuda sensei: Sinceramente eu não me preocupo com esta questão. Há inevitavelmente um movimento do ventre, mas eu não presto atenção nisto. De qualquer forma, o ventre se endurece durante a expiração. Como eu dizia, a expiração desce no tanden e empurra tanto ao interior, em direção aos rins, e em direção ao exterior. Mas isto não é um fim em si, pratica-se essa respiração depois se esquece.
Há igualmente outros métodos de controle como susokukan, a contagem da respiração, mas eu não a utilizo. Às vezes sim, ao menos, quando meu zazen está difícil. Como Keizan explicou.
Além do susokukan, há igualmente o zuisokukan, “seguir a respiração”. Saber que quando a respiração é longa, ela é longa, e quando ela é curta, ela é curta. Na escola Soto, recomenda-se nunca utilizar este método mesmo quando se pratica uma meditação infernal. É preciso saber esquecer a respiração e entrar em shikantaza. A respiração passa imperceptivelmente pelo nariz e não há então nem consciência, nem esforço, nem controle.
A prática regular, então, é muito importante. Mesmo quando já praticamos há muitos anos, se esquecemos o zazen um único dia, é como se houvéssemos perdido três dias. Se esquecemos o zazen três dias, é como se tivéssemos perdido um mês. Se esquecemos o zazen um mês, é como se tivéssemos perdido um ano. De qualquer forma, shiryo está incluído em hishiryo. Mesmo se nossos pensamentos idiotas estão incluídos em qualquer coisa mais vasta. Tenhamos ou não dificuldades, isto não é importante. É preciso apenas continuarmos a sentar sem nada esperar. Eu experimento este zazen como precioso e sou feliz pois nada mais me pode escapar. É assim que passo minha vida.
Nessa explicação sobre a respiração eu estou um pouco influenciado pelo ensinamento da escola Rinzai.

Nishijima Sensei: De minha parte, eu nunca me interessei tanto pelo controle da respiração. Eu sei que o Mestre Deshimaru modificou alguns pontos em relação ao ensinamento do Mestre Sodo Sawaki. Mestre Deshimaru estudou muito no templo Sojii, perto de Yokohama, onde morava. Keizan Jokin, o quarto patriarca depois de Mestre Dogen e fundador daquele mosteiro, escreveu o Zazen Yojinki, onde descreve o controle da respiração, regulando-a. Desde essa época, os monges daquele templo praticam esse tipo de respiração. O Mestre Deshimaru foi assim influenciado por esse ensinamento. Isto é importante porque o Mestre Deshimaru seguiu as instruções sobre a respiração daquele templo, e não do Mestre Kodo Sawaki.

Na escola Rinzai, a ênfase é colocada sobre a respiração abdominal. Qual é a opinião de Sawaki roshi sobre a respiração?

Tokuda sensei: Não sei. Mesmo se na escola Soto não se fala do controle da respiração, com a prática, este tipo de respiração abdominal aparece naturalmente. Eu mesmo não me oponho a esta forma de concentração. A escola Soto preconiza que não se utilize a concentração chamada anapanassati, pois ela pertence ao Pequeno Veículo. Mas por que não? A visão do Zen de Dogen engloba todas as escolas, inclusive aquelas do Pequeno Veículo.
Mestre Keizan diz que em casos de dificuldades pode-se concentrar na respiração. Mas esta não é a finalidade do zazen. Há numerosas etapas até o shikantaza. Neste sentido o zazen de Dogen não é comparável a nenhum outro.
Eu devo confessar que o meu zazen é o de um iniciante. Mas eu sou feliz porque, pelo menos, depois de trinta anos, eu não posso mais parar. Durante os sesshin, durante alguns breves instantes, eu posso dizer que pratico o shikantaza. Este zazen não é comparável a nada mais e é este que deve ser transmitido. Mas repito, uma vez mais, que o zazen, seja bom ou seja ruim, permanece incluído em hishiryo.

Nishijima sensei: Mestre Kodo Sawaki nunca falou da respiração de maneira precisa em seus seminários. Tanto quanto conheça, não existe descrição escrita de Mestre Kodo Sawaki sobre o zazen. Só conheço as descrições orais que ele dava em seus seminários - "manter a coluna vertebral reta". Eu não me pronuncio sobre outras técnicas que não tenha praticado. Apenas sentar-se mantendo a coluna vertebral reta. É tudo. Muitas coisas foram acrescentadas, como o controle da respiração, a esta prática muito simples de manter a coluna vertebral reta. Mas depois da descrição de Mestre Dogen, zazen é um estado natural. Não tem nada de controlado. A respiração claramente é natural. Ela não é controlada mentalmente. Não há esforço algum, nenhuma concentração sobre a respiração.


* * *

[1] Suzuki, S., Mente Zen, mente de principiante. São Paulo: Palas Athena, 1994. 5ª Edição, 2004. p.27-29.
[2] Traduzido de Osaka, K. Breathing in Zazen in Maezumi, T & Glassman, B. On Zen Practice. Boston; Wisdom Publications, 2002. p. 41-42.
[3] Traduzido de Deshimaru, T. Questions a un Maître Zen. Paris: Albin Michel, 1984. p.161-164.
[4] Traduzido de Deshimaru, T. Mondo in La Pratique du Zen. Paris: Albin Michel, 1977. p.52.
[5] Extraído e traduzido de “Méditer -Des explications de deux maîtres zen contemporains” em http://www.zen-occidental.net/nishijima/gudo2.html.

4 Comments:

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